segunda-feira, 2 de março de 2015

"Memórias de um professor"

                                                       Jardim de infância
                                                    Professor Gérson Trevisan


Acredito que eram os anos finais da década de 1960. Foram poucos os anos em que residi em Cesário Lange, na zona rubana. A maior parte do tempo morei na zona rural, num sitio localizado no bairro Ribeirão da Onça. Mas, entre 3 e 6 anos, nossa família residiu na "cidade", como a chamávamos. 
É certo que essa palavra ere generosa demais para descrever Cesário Lange daquela época. Havia apenas uma rua asfaltada e com rede de esgoto, a Rua do Meio, também chamada de Rua do Comercio. As outras ruas eram de terra, calçadas com pedra. Eu morava na Rua Joaquim Ribeiro da Silva, onde hoje está localizado o Zebra Gás. Sempre a "plaina" passava por essas estradas, para plaina-las, tapando seus buracos e era meu divertimento ver aquela enorme máquina fazendo seu trabalho. A maquina era conduzida pelo hábil Dito Panca, um homem co cara de bravo, ao mesmo tempo, generoso com as crianças, que nutriam pelo seu trabalho especial admiração.
Nessa rua, se deram as minhas primeiras aventuras e meus primeiros acidentes. Como a minha casa era antecedida por uma "subida", para lá íamos eu, minhas irmãs e primos, para descer de bicicleta. Era uma bicicletinha velha, sem pneus e sem corrente, mas nossa aventura era descer a ladeira, fazendo zigue-zague numa enorme velocidade. A maneira de frear era saltando ou caindo da bicicleta. E foram inúmeras quedas.
Também, nessa rua, aconteceu comigo o primeiro grande acidente: certo dia, ao ir até a venda comprar pão para tomarmos café, fui atingido por uma caminhonete conduzida por um motorista imprudente, talvez bêbado, que me acertou nas pernas, me jogou do outro lado da rua, tendo me ferido em  diversos lugares. Projetado para o outro lado da rua, entre as lagrimas e o susto, eu perguntava desesperado:
- Onde foi parar o pão?
Sim, pois para uma família de pouca renda como a nossa, aquele pão poderia fazer uma imensa falta.
Era um período de grandes limitações, sem dúvidas, pois nossa família era grande e apenas meus pais trabalhavam: meu pai na roça e minha mãe com costureira. Mas também um período de grandes alegrias, pois as brincadeiras de polícia e ladrão, as aventuras com a velha bicicleta, a brincadeira de pega-pega e esconde-esconde nos faziam viajar para lugares onde as dificuldades inexistiam e onde nos sustentavam apenas os sonhos e a esperança.
                                                                                 " O Projeto Meu Primeiro Livro"


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